“O preconceito contra o homossexualismo não foi o bastante para derrotar
a vontade do povo”. As palavras em tom de desabafo partem de José
Humberto de Jesus, de 37 anos, popularmente conhecido como “Mergulho”,
eleito vereador em Euclides da Cunha, a 311 quilômetros de Salvador.
Filho criado sem a presença do pai, “Mergulho” começou a trabalhar cedo.
Aos 13 anos ele diz que já lutava para garantir o pão de cada dia. “Eu
era tão pequeno que utilizava caixas de cerveja para alcançar a pia e
lavar os pratos. Mas no final do dia levava o dinheiro para casa”, conta
o vereador que recebeu 879 votos e garantiu um gabinete com o seu nome
na Câmara Municipal.
Concursado há 16 anos como auxiliar de serviços gerais da prefeitura, o
vereador garante que vai continuar trabalhando. “Já insinuaram que não
posso continuar lavando banheiro e isso é um absurdo. Vou continuar com o
meu trabalho e lutando pelo interesse da população. Eu sou faxineiro e
continuarei sendo até quando Deus me dê saúde”, garante.
“Mergulho” conta que sempre foi independente e nunca sofreu preconceito.
“Todas as pessoas aqui na cidade sabem que sou homossexual. Eles sempre
viram a minha batalha. Já trabalhei como vendedor de catálogo de
revista, tratador de fato e em casa de família. Não vejo problema algum
em dizer que sempre mantive meus sustentos sem precisar pedir a
ninguém”.
Ele conta que além de continuar exercendo a função de auxiliar de
serviços gerais, vai permanecer recebendo os pedidos de encomenda para
alimentos e as faxinas que faz nas casas dos moradores. “O trabalho
dignifica o ser humano. Jamais irei deixar de continuar trabalhando. Vou
dividir o tempo entre o gabinete e os meus afazeres do dia a dia”.
O salário de “Mergulho” vai saltar dos atuais R$ 900 para R$ 7.900, com o
incremento dos R$ 7 mil que cada vereador de Euclides da Cunha tem
direito de receber por mês. “Se antes eu já doava cestas básicas e ajuda
na saúde, agora é que vou fazer muito mais”, promete o vereador gastou
R$ 850 na campanha.
Questionado se prefere ser chamado de vereador ou vereadora, Mergulho
não vê problema na forma de ser reverenciado. “O importante é que me
respeitem. O povo é quem deve escolher a forma de me tratar. E
independente da forma, eu irei atender”.
Sobre o preconceito que os homossexuais sofrem, ele tem um olhar
diferente. “Não gosto de julgar, mas eu sei onde piso e como me portar
onde eu chego. Tenho minha opção sexual e não sou espalhafatoso, não
gosto de chamar a atenção e por isso todos me respeitam onde chego.
Existem homossexuais preferem se prostituir ao invés de lavar pratos.
Outras roubam, agridem e depois dizem que sofrem preconceitos. Essa é a
minha opinião e respeito a opção de vida dos outros”.
“Eu posso, mas não vou pedir licença de minhas funções. Trabalho é
honra. Dia 15 de janeiro vou comparecer ao meu gabinete, vou trabalhar
como auxiliar, dar conta das encomendas e se aparecer as faxinas eu
estarei lá. O importante é trabalhar e ganhar o seu dinheiro com o seu
suor”, concluiu.